Junta de Freguesia da Póvoa

Santuário Mariano do Picão

Ainda Mariana estava no ventre da mãe, já poisava uma luz em cima de uma arca o que deixava a mãe preocupada com o que iria ser daquela criança. Segundo relato de familiares, Nossa Senhora aparecia em casa, em qualquer parte onde Mariana estivesse. Tinha então poucos meses quando o fenómeno se começou a registar, o que deixava a sua mãe perplexa. A bebé aparecia limpa e penteada. Os irmãos perguntavam: “quem te penteou?”, ao que Mariana respondia: “foi Nossa Senhora.” Isto acontecia no período de Março e Abril ao longo de 16 anos, só em 1903 com 7 anos de idade a jovem terá dado conta do sucedido a um irmão chamado Carloto, ao qual afirmou ter visto Nossa Senhora.
Um certo dia, estando Mariana com seu irmão Carloto no Picão a guardar as vacas, o irmão disse a Mariana estar cheio de sede, e como nessa altura não havia nem poço, nem fonte, ao que Mariana respondeu: “ Faz aqui uma poça com o pé”, o rapaz assim fez e a água saiu e essa fonte ainda hoje não secou, nem em anos de extrema seca.
As aparições nunca foram presenciadas por mais ninguém até àquela altura, mas não deixou de transformar o sítio do Picão num lugar de culto, especialmente para os espanhóis da zona de Leão e Castela, que ainda hoje procuram o local. Para além da fé que movia multidões de pessoas, naquele tempo a água e a terra do local eram muito procuradas, sendo utilizadas para banhos e cura de doenças, porque a água que ali corria, eram-lhe atribuídos poderes curativos e não havia peregrino algum que por ali passasse e não se banhasse para curar os males do corpo ou não bebesse da fonte para aliviar o espírito e se proteger de eventuais maleitas.
Várias foram as razões para o desaparecimento do Santuário. No entanto o Picão acabou em ruínas de onde foram retiradas nos anos 50, pedras para erguer duas capelas, no Santuário Mariano de Nossa Senhora do Nazo, e a imagem de Nossa Senhora da Imaculada Conceição que se encontra no interior da Capela do Nazo.”
Relação com as aparições de Fátima
Sete anos antes de os três pastorinhos levarem multidões à Cova de Iria, em Fátima, uma jovem transmontana de 14 anos também pastora, afirmava ter visto Nossa Senhora, e levou também ao Picão romarias de portugueses e espanhóis que procuravam presenciar o que
erguidas pedras com o número da aparição que ainda hoje se podem encontrar na zona.

Mariana João faleceu em 1972, com 76 anos de idade, e o desgosto de ver desmoronar o seu santuário de fé, afirmando que a Senhora que via em Fátima, esteve antes aqui na Terra de Miranda.
Visite, por isso, o antigo Santuário da Senhora do Picão, um adro luxuosamente calcetado, onde avultam o célebre poço de água milagrosa, as ruínas da capela, e outras estruturas de apoio, tudo refletindo que, ali, a fé moveu montanha. O recinto é ainda bordejado a poente por um lanço de uma via, com vinte séculos, de perfil intacto, refletindo denso tráfego durante o Império Romano, que continuou nos catorze séculos seguintes.

Fonte: Eliseu Lucas, “Santuário Mariano do Picão, Antes e depois de 2006”